sábado, 26 de abril de 2014



Um coração nas mãos erradas é 
Uma alma cheia de nada, 
A morte da gargalhada 
Relento e noite gelada. 

É como a rosa coberta em geada, 
Uma imagem linda com uma história trágica, 
Pinta um retrato e guarda, 
Já sabemos como a história acaba. 

E em dias de menos glória, 
Repetidos, como as histórias, 
Os punhos estão cerrados. 

Todos os contos são vãos 
Ainda com o meu coração nas mãos 
Dedicas-me um aplauso. 

Aplauso, António Galvão


Quando arrisco olhar-me para o corpo, encontro apenas os vincos da roupa que nunca chego a despir. Desfio incontáveis os minutos que durmo em te esquecendo, e em te esquecendo encontro arestas, pontos arenosos, trilhos recortados na pele que oxigeno por fim. O caminho de ti até mim fez-se atribulado, e a chegada não traz muitas mais respostas, senão tantas outras questões que ficam para serem respondidas noutros tempos, noutras pessoas, noutras memórias. Do vazio já muito pouco sei. Revezo-me a mim mesma nas noites veladas onde só eu, assim sozinha, me acompanho me embalo me amo. Ao coração que despedaçado jazia, guardo respeito, inteira admiração, prostrada vénia como quem diz adeus, não mais voltes, não mais me quebres para nunca mais me reconstruires. De agulha e linha tanto me cozi, que a agulha quase quebrada pouco ajuda a linha que ameaça chegar ao fim. Do tecido novo que se fez cicatriz faz-se também pele nova, a pele que há-de suster os outros baques e todas as batalhas por travar.