domingo, 8 de junho de 2014

coincidências





Dos prazeres matinais. Uma casa com jardim, que se prestava aos deleites ainda mal descolados dos sonos. A mão procurava as arestas familiares do corpo do outro, a melancolia campestre ditando a cadência aos movimentos, recostava-se a cabeça no peito que ali jazia e o mundo dir-se-ia não acabar mais. Presas à preguiça, entrelaçavam-se lentas as pernas e outro suspiro leve, quase inaudível, parecia sempre espraiar-se além das janelas brancas que se abriam para o jardim. Ela enrolava-se nele e apertava-o ainda mais, que o amor nunca se há-de acabar, as manhãs são palavra viva na intensidade que com ela o aconchega e o aninha e lhe diz que o quer tanto, que ele nunca se há-de ir embora porque o amor nunca se há-de acabar. Que as janelas nunca se hão-de fechar e que o suspiro há-de ir e voltar, porque o amor nunca se há-de acabar. Mas o amor? O amor quase sempre se apaga e se acaba, as janelas brancas deixam-se fechar e o jardim sente-se murchar vergado de mágoas e de despedidas que nunca chegam a acabar. O amor é um eterno adeus, um fica-me para sempre antes de te ires de vez. 

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