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pegueitrinquei
terça-feira, 7 de março de 2017
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quinta-feira, 14 de abril de 2016
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quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016
Quando o medo te é uma palavra estranha
Gostas de acreditar que és forte, que medos tens poucos, que o que já passaste faz de ti resistente ao tudo que há de vir. Mas dás por ti sozinha sentada num corredor onde esperas a tua vez para seres testada, que nem um rato num laboratório. Uma amostra disto, um exame daquilo. Ao teu lado, alguém fala sobre massas de 17 centímetros, sobre cirurgias e exames cujos nomes nem arriscas pronunciar. A miúda sentada ao teu lado não terá mais de 15 anos e discute temas difíceis com a mulher de meia idade que a acompanha. Não se lhe notam preocupações ou medos, como se uma estranha invencibilidade tomasse conta dela. Sentes os pêlos do teu braço eriçarem-se e sabes que não é do frio cortante que faz lá fora, tão pouco da música boa que ouves nos teus fones. O arrepio que sentes chama-se medo, uma sensação irracional por não saberes o que te vão dizer depois de te testarem. É inevitável pores em perspectiva o que fazes com o teu tempo, como ages com os outros, o quanto de generosidade ou frieza que pões nos teus atos naqueles dias normais em que a incerteza não paira sobre a tua cabeça. A luz imensa do corredor encandeia-te além do razoável, e tudo o que querias era que a luz se apagasse e uma mão segurasse a tua e te dissesse que está tudo bem. Tudo o que querias era que alguém te repetisse que és perfeita e te secasse a lágrima que ameaça saltar do teu olho a qualquer momento. Relativizas tudo e pensas uma e outra vez se tens amado o suficiente, se te tens deixado cuidar, se a pressa dos teus dias não te deixou mais fria e mais só, ao ponto da tua autonomia começar a fazer todo e o único sentido. Anseias sair para a rua e engolir um cigarro que camufle a tua ansiedade e o teu medo das coisas que ainda não sabes. Percebes então que estavas enganada o tempo todo sobre a tua total tolerância aos medos, pois não tens a teu lado a mão que tanto querias a segurar a tua, nem o peito que apoia a tua cabeça trémula. Sentes-te pequena, indefesa e desamparada. Até que ao fim de uma melindrosa espera chamam por fim o teu nome. Despes-te numa sala cheia de máquinas frias e és mais uma vez assaltada pelos quantos medos que cabem em ti.
terça-feira, 24 de novembro de 2015
sombras
terça-feira, 22 de setembro de 2015
despedida curta
sexta-feira, 10 de julho de 2015
Do amor-próprio
Alguém que tive o privilégio de conhecer esta semana fez-me uma pergunta bastante pertinente: qual vai ser a relação mais duradoura da tua vida? O meu irmão!, respondi eu sem hesitar. É o meu melhor amigo, a pessoa com quem mais partilho código genético, apesar das curiosas diferenças que nos distinguem e que nos fazem ser ainda mais unidos.
Resposta errada, claro está.
A relação mais duradoura da minha vida é a que tenho comigo própria, e como todas as relações, nem sempre tem sido fácil. Dias houve em que pensei para mim própria o quão farta estava de ser eu, de coabitar comigo própria, tal era a complexidade de desafios que a mim mesma me colocava. Se para amarmos outras pessoas é precisa disponibilidade, amar-nos a nós próprios requer uma disponibilidade infinitamente maior. Será talvez um dos mais permanentes desafios com que teremos que lidar ao longo das nossas preciosas vidas.
Olhando para trás, e para as relações que fui tendo, fossem elas de amor ou de amizade, percebo claramente que algumas delas não foram bem-sucedidas pela minha indisponibilidade em me amar a mim mesma, antes sequer de pensar em amar o outro. Esta mesma pessoa que me fez essa pergunta, de uma perspicácia e sagacidade acima de média, usava uma analogia bastante interessante, e que vou guardar como ferramenta indelével neste exercício tão difícil de praticar que é o amor-próprio: não existe “a outra metade da laranja”. Existem sim “laranjas” que caminham juntas, que fazem um percurso, que crescem, se acrescentam, e por essa via evoluem. Aceitarmos esta premissa é meio caminho andado para que à medida que as pessoas que vão cruzando o nosso caminho, e se por algum motivo se afastarem, isso não constitua para nós uma tragédia pessoal, mas sim uma parte inevitável do longo percurso que é a vida. Talvez por ter acreditado por tanto tempo na outra metade da laranja, fui eu própria uma laranja incompleta.
Tenho tido a sorte de encontrar pessoas extremamente ricas que comigo têm partilhado ensinamentos preciosos. À medida que fui crescendo e que fui travando as minhas batalhas pessoais, apercebi-me que apesar de ser importante focarmo-nos no aqui e agora, na ideia do “um dia de cada vez”, é também importante fazer aqui e ali uma análise macro da nossa vida, olhar para trás e para a frente, perceber o que falhou e o que se quer evitar repetir de errado. Há feridas que por vezes damos como curadas, quando na realidade não estão senão arquivadas algures dentro de nós, prontas a doer mas nos sentirmos mais frágeis ou desprotegidos. Algumas delas são tão dolorosas, que o tempo inteiro de uma vida não é suficiente para as sarar. É importante reconciliarmo-nos com isso, porque nem sempre vamos conseguir resolver tudo, e não será à base de pensos rápidos que vamos chegar a algum lado.
Amarmo-nos, a nós próprios em primeiro lugar, prioridade primeira da nossa existência. Só assim seremos capazes de alguma vez amar verdadeiramente aqueles que vão fazendo parte das nossas vidas.a
segunda-feira, 29 de junho de 2015
domingo, 14 de junho de 2015
histórias de amor em dias de chuva
quarta-feira, 3 de junho de 2015
quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015
M A N O S
A vida sem ti tinha sido tão triste.
quinta-feira, 15 de janeiro de 2015
photo @ João Tamura |
sábado, 3 de janeiro de 2015
quinta-feira, 25 de dezembro de 2014
photo @ Pedro Miguel Rodrigues 2014 PMRPHOTOGRAPHY |
domingo, 21 de dezembro de 2014
quarta-feira, 26 de novembro de 2014
vizinha Lena
quarto |
O meu quarto da cidade costuma dar-se ares de província, de tão silencioso que sempre fica. Só lhe faltam mesmo os pardais da província. No despido quarto de aldeia onde cresci, janela virada para a estrada, entravam sons de carros, de motas, de carroças e de tractores, do sino e do relógio da igreja - afinal, era o quarenta e um da Rua Principal, a rua que ligava o início do lugar ao largo da igreja, onde o mundo se resumia para começar e logo acabar - afinal, nada mas mesmo nada ali acontecia. Sons e os sons dos pardais. A vizinha Lena morava mesmo à minha frente e tinha árvores onde cantavam os pardais que me adormeciam quando me deitava de manhã, que me acordavam quando me levantasse cedo.
quinta-feira, 13 de novembro de 2014
quem é quem
Às pessoas fazes o mesmo. Deixa-las habitarem-te indefinidamente, perpetrando memórias que já ninguém quer, procrastinando como quem dança à volta do inevitável. Se pudesse, processava-te em saquinhos de chá enquanto durasses, para te ferver e te beber em vagarosos tragos, até que te esgotasses dentro de mim em sabores de frutos e de flores.
segunda-feira, 10 de novembro de 2014
manhã
terça-feira, 4 de novembro de 2014
segunda-feira, 27 de outubro de 2014
Horário de Inverno
terça-feira, 21 de outubro de 2014
Só o palrear dos grilos acompanha o lusco fusco matinal em que me sento. Acendo um cigarro só pelo prazer de ver o fumo competir com a neblina que se me assenta na pele. Arrepiei-me e tu nem deste conta. Presságio ou não do teu apartamento. Quem sabe? A manhã ameaça já despontar, o relógio parou entre as sete e as oito, e tu desenhas ainda sem parar. Desenha-me outra vez, penso para dentro, enquanto queimo mais um bafo no cigarro. Despi-me das amarras e fui tudo o que nunca alguma vez pensara ser possível. A pessoa mais feliz do mundo, mesmo depois de tudo. Mesmo depois de tudo, a pessoa mais feliz do mundo. Doce privilégio esse, amargo o gosto de quando se evapora a gota última desse elixir que chamam de felicidade. Humedeço os lábios, em te pedindo na penumbra da manhã um último beijo que nos enleve para sempre no chamamento que o destino nos faz. Que fragmento bizarro, esta madrugada abafada e disfarçada de fria. Nunca te sentaste comigo nestes degraus a apreciar a quietude do campo, a inércia da vegetação, a diversidade dos teus verdes. O mundo jaz aqui aos nossos pés, este chão, estas fundações, este pedaço de terra onde nos pertencemos noites sem fim, onde o mundo começa e acaba em nós. Pouso os pés descalços no chão frio e sinto a tua mão descer-me sobre o ombro, a chamar-me para a tua cama.