domingo, 14 de junho de 2015

histórias de amor em dias de chuva



Tanto ele como ela têm já mais de oitenta anos. Oitenta redondos anos. Conheço-os há uns três anos, vejo-os aqui e ali no espaço dos meses, mas só desta vez me sobraram uns minutos no meio da correria para escutá-los e observar a ternura que ainda se dedicam todos os dias. 

Enquanto me contavam a história que os une há mais de cinquenta anos, ela olhava para ele enternecida, ele passava-lhe a mão pelas costas no maior carinho que alguma vez tive o privilégio de presenciar. Ele tinha ficado dez anos em Moçambique a fazer investigação forense, ela casara-se aos vinte e um em Portugal e trabalhava numa fábrica de nylons. Mas aos trinta, uma fatalidade deixava-a viúva. E eu senti que tinha que correr para Portugal, ela estava à minha espera, disse-me ele de sorriso rasgado, como se nessa intuição conseguisse prever uma vida inteira ao lado dela. E não se enganou. Quando chegou, conheceu-a numa paragem de autocarro, e como quem compra um bilhete só de ida, apaixonou-se à primeira vista. E não se largaram mais, por mais de cinquenta anos, até aos dias de hoje. Faziam anos de casados nesse dia, 12 de Junho - fintámos o Santo António, sorriram - e tinham ido almoçar juntos ao mesmo restaurante de sempre. Embevecida, senti os olhos humedecerem-se-me na emoção de ouvir uma história assim. 

Despedi-me de ambos com os dois beijos do costume, e vi-os seguirem de mãos dadas como de costume, iam passar o resto da tarde juntos, como de costume. E nesse momento percebi que nunca tinha conhecido ninguém tão apaixonado, nem que assim tivesse permanecido durante tanto, mas tanto tempo. 

Porra, o amor.

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