Dias que viram noites que viram dias que viram noites.
A linha entre uns e outros é ténue, quando não calha a ser
nula. E se não sei onde uns começam, menos ainda sei onde os outros acabam. A
horda de seguidores, sôfregos e extravagantes, dá corpo a um séquito de cores,
sal, areia e sol, qual corte andrajosa, unida no propósito comum de não deixar
por mãos alheias um segundo só deste estio que se lhes oferece em tom provocatório.
Despidos os clichés, veste-se o corpo de música, de fumo, de vinho ou desse
orvalho nocturno de que também se faz um verão. Aquecido o espírito, pés
descalços ao caminho e acende-se o rastilho à entrega. Porque a música fala
mais alto, remisturando molécula a molécula a matéria para a enlevar em acordes
profanos que sem pudor se entranham na pele, no sangue, no suor, nos odores.
Deitados no chão, pregamos todos os olhos no céu à espera da
chuva de estrelas que se promete para hoje. Como se de chuvas e de estrelas
todos nós precisássemos, almejo colectivo de novidade, de cósmico, de espaço e
de fantasias.
Verga-se o corpo ao castigo, para logo a seguir o ver
empurrado para parte incerta, para uma dimensão onde os dias viram noites que
viram dias que logo de seguida viram noites. Nos pés, sempre uma areia que teima
em não largar, no corpo um sal que sazonalmente se agarra e que só abala quando
estiverem para cair as primeiras folhas do outono.
Porque até lá, somos os
nómadas da praia. De areia e sal nos fazemos, sem ponto de partida nem ponto de
chegada, entregues que estamos ao capricho dos elementos.
nossa, cada texto teu me remete à alguma música que eu já ouvi: http://www.youtube.com/watch?v=ks6-Xr1-MlI
ResponderEliminarCheira a verão e a desprendimento, onde os dias e as noites se tocam. Belo texto :)
ResponderEliminar