domingo, 15 de dezembro de 2013



Almiscarada fusão de terra, açúcar mascavado, chuva. Deslizo a caneta pela tua pele, numa esperança vã de marcar o caminho para essa fragrância que me tem refém das manhãs, das tardes, das noites. Prepotência sensorial, essa dependência olfactiva que pesa mais que a invasão do toque, que a pendência do sabor, que a força das palavras, que a intensidade dos olhares. Tudo se resume e encontra nesse erotismo disfarçado de sei lá o quê, de folhas caídas no Outono, de bambus abandonados em cantos de salas, da austeridade dos afectos, das rixas entre o ir e o ficar. Escapo-te como água por entre os dedos, e tu ingénua julgas-te rainha e senhora dos rios e dos mares, que podes afundar embarcações ou resgatá-las ao fundo do mar. Mas não podes. Julgas que podes, mas não sabes que não podes. O teu único poder, é este de me deixares entranhados na palma das mãos esses odores que não se deixam vencer por loções, nem por águas, nem por outras fragrâncias. Valha-nos isso, pois que no instante em que aproximo a mão ao nariz, de novo viajo e me velo aos imperativos do prazer.

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