terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Não conheço a proibição. E minha própria força me libera, essa vida plena que se me transborda. E nada planejo no meu trabalho intuitivo de viver: trabalho com o indireto, o informal e o imprevisto.

Clarice Lispector, in Água Viva



Sei de cor os dias todos, ou quase. O da água, o do gás, o da luz e da internet, da renda, do IMI, do imposto automóvel e dos seguros todos. Raramente sou apanhada na curva, aprendi a ser assim para ver se ia caindo do cavalo menos vezes, como chegou a acontecer umas quantas vezes. Sou matemática, calculista, arrumada no que aos aspectos práticos da vida diz respeito.

Mas quando anoitece, o caso muda de figura. O caos atrai-me, a imprevisibilidade do ser humano tem-me amarrada a olhar para ela como quem antevê um tornado, mas não corre a esconder-se no abrigo. Gosto de me sentir sacudida nas minhas crenças e nos meus preceitos, desafiada pela aleatoriedade que os acontecimentos assumem, aturdida nos caminhos que se vão proporcionando – descalça na maioria das vezes. Porque se durante o dia procuro não me sujeitar ao desconhecido, a noite entrega-me à fúria dos elementos, à impetuosidade carnavalesca que as trevas sempre carregam consigo. 

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