quarta-feira, 4 de dezembro de 2013



A pouca luz que o vidro da janela deixa passar não deixa adivinhar mais do que uma insinuação do teu desenho. Na parede descubro a projecção da tua sombra, caminho curvilíneo de perdição e viagens sem regresso, onde me deixo ficar suspenso do teu imperativo. Deslizas suave um dedo à boca, entre cortando-o ora à pele, ora à linha insinuante que (in)define os teus lábios. 

Sabe a fumos e a licores, a tua boca. 

Dela bebo vagaroso, perdido na imensidão de sabores e memórias que me traz o gosto da tua boca, pecaminosa e implacável, suavemente perpétua. Insinua-la uma vez mais, como quem finge não saber estar debaixo do olhar de outro. Sabes bem que estou aqui e que te observo, e nem a janela  aberta para a rua ameaça de timidez o teu corpo nu, que tão bem ostentas exibas desfilas como quem não teme o mundo ou a vida.

Provoca-me, sabes que sou oxigenado a fragrância e a luxúria, entrega-te mais uma vez e não feches a janela, deixa-me percorrer-te à sombra da luz que anoitece lá fora.

4 comentários:

  1. o fascínio da musicalidade nos sentidos, tantas vezes opostos, outras vezes a dividir por espaços.

    __________ e eu que costumava dizer(-lhe): sabes a violetas quando me sussurras promessas.

    Excelente texto. magnífico lugar. Cheguei aqui através do Von. E não me 'von' mais. fico.

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