photo © Felix Müller 2013 |
O
Torel já me tinha sido prometido por um fotógrafo português, mas ironicamente
quem acabou por mo oferecer foi mesmo um fotógrafo berlinense. Mal estacionámos
nos Mártires da Pátria, os olhos acenderam-se-lhe de entusiasmo como há já
muito tempo não via acontecer com alguém. O Felix teve a sorte de viver duas
curtas semanas em Lisboa algures em 2004, e dessas semanas ficaram-lhe dentro
as ruas da Pena, as árvores do Torel, as tascas de Santa Marta, os rostos que
cruzam estas ruas, tanto velhos, como
novos!, como ele gosta de frisar. Que em Berlim, as idades tendem cada vez
mais a não se misturar. Jovens abastados no centro, e idosos segregados para
bairros mais desprovidos na periferia. Mas Lisboa não, Lisboa proporciona-lhe
não só o encontro das culturas, mas também das idades. Visão curiosa esta que
nunca tinha ouvido a ninguém.
Esta
história podia ser a história de como ontem, volvidos dez anos desde a minha
“aterragem” em Lisboa, ainda me consigo apaixonar por esta cidade. E nada como
ser levada pelos olhos de alguém que consegue ser tão ou ainda mais apaixonado por
ela do que nós. E a poucas horas do Felix levantar voo rumo a Berlim, lá me fez
percorrer com ele as ruas da Pena.
Mas
como dizia, esta não é mais uma história do meu amor a esta cidade. Esta é a
história de como com 18 anos, o Felix descobriu nos rostos dos lisboetas uma
vocação que haveria de lhe mudar o destino, fazendo dele o fotógrafo que é
hoje. E foi na senda dessa vocação que numa das suas vindas a Portugal em 2004
acabou por retratar o senhor que veêm na foto. Era no número 99 da Calçada de
Santana que invariavelmente acabava por almoçar ou jantar, deduzo que talvez
nem tanto pela iguarias servidas, mas mais porque, tal como me admitiu, caiu de
amores pelos proprietários. O Sr. António, de bigode simpático, e a D.
Ermelinda, que enquanto por lá estivémos, não deixou de sorrir um único instante.
E foi assim que tive o prazer de presenciar um momento único, uma espécie de viagem
no tempo até 2004, quando o Felix entregou a foto ao Sr. António. Como portador
de bigode que se preze, claro que o Sr. António foi pouco efusivo e não
exteriorizou tantas emoções quanto as que acredito que sentia. Já o Felix não
podia estar mais irrequieto, tal era a satisfação de quase dez anos depois,
poder estar de volta para oferecer o retrato em mãos ao seu estimado modelo. A
D. Ermelinda, como seria de se prever, esbanjou beijos e abraços, reconhecida
pela empreitada que nos tinha levado até ali naquele final de tarde quente de
Junho. E o Sr. António lá fez pose mais
uma vez, não para a máquina topo de gama - que o Felix não levou, mas para o iPhone, e
que hoje em dia lá vai cumprindo esta função de registar momentos já com algum aprumo.
Dois moscateis fresquinhos em sinal de agradecimento, um último abraço e mais
uns quantos beijos, e lá nos despedimos daquelas duas figuras com um até já esperançoso.
I’m so happy that I could cry
now, disse-me
ele enquanto subíamos a rua. Não pude deixar de pensar em mim própria. Quando é
que estive tão feliz pela última vez que me apetecesse chorar? Bom, afinal nem
foi assim há tanto tempo quanto eu imaginava no início desta frase. E não é que
tenha ficado à beira das lágrimas, mas ontem tive vários momentos em que me
faltaram as palavras, em que quis articular os pensamentos que me atravessavam
a mil à hora, e simplesmente não consegui. Desde que pus os olhos no Torel pela
primeira vez, até que me despedi do Sr. António e da D.Ermelinda e o Felix me
diz que estava capaz de chorar. Em todos esses momentos, pouco ou nada consegui
dizer.
E não
pude deixar de pensar, se afinal não é na linha dessas ausências de palavras em
que às vezes nos encontramos, que se cose a felicidade.
And now for the artist... I hope my words don't get lost in translation... Here it goes.
And now for the artist... I hope my words don't get lost in translation... Here it goes.
Torel had already
been promised to me by a Portuguese photographer, but ironically who ended up
offering it to me was a Berliner photographer. We barely parked the car at
Mártires da Pátria, and his eyes immediately enlightened such was the enthusiasm,
in a way that I’ve seen in anyone for a long time now. Felix was just lucky
enough to live for two weeks in Lisbon some when back in 2004, and from those
times, he kept inside the Pena’s streets, the Torel’s trees, the taverns in
Santa Marta, the faces that cross these streets, booth old and new!, as he likes to stress. That in Berlin, the ages
don’t tend to blend anymore. Young and rich folks take over the city center, as
the older people are segregated to poor neighborhoods in the outskirts. But not in Lisbon, no;
Lisbon provides him both the cultural and the age encounter. A curious sight
that I hadn’t heard to anyone before.
This story
could be the story of how yesterday, ten years after “landing” in Lisbon, I can
still fall in love time and time again. And it’s even better if you’re taken by
someone else’s eyes, someone who can be as much or even more in love whit the
city then you already are. And with a flight back to Berlin only a few hours
away, Felix made me walk Pena’s streets with him.
But has I
was saying this is not another story on how much I love this city. This is the
story of how with only 18 years old, Felix discovered in Lisbon’s faces a
calling that would change his future, and turn him into the photographer he is
nowadays. And it was somewhere along him searching this vocation that he ended
up taking this man’s picture, back in 2004 in one of his trips to Portugal. It
was on the Calçada de Santana, 99 that he usually ended up having lunch or
dinner, I imagine no so much about the food, but maybe because, as he just admitted
to me, because he had fall in love with the owners. Mr. António, with the
nicest moustache, and Mrs. Ermelinda, the one that while we were there, didn’t stopped
smiling for a single second. And that was how I ended up living an unique
moment, a sort of a travel back in time until 2004, when Felix delivered Mr.
Antonio the photo. As a proud moustache owner, Mr. Antonio wasn’t that much
effusive, and didn’t put out as many emotions has I am sure he had inside. Now
Felix, he just couldn’t stand, has he was so thrilled of finally being able,
almost ten years later, to deliver to his cherished model, the picture he had
taken. Mrs. Ermelinda, as expected, spread many hugs and kisses, clearly
recognizing the journey that had lead us there on that unique and warm
afternoon in June. Once again, Antonio
made his pose, not to the top gear camera – that Felix wasn’t carrying, but to
the iPhone, which can perfectly perform it nowadays. Two fresh Moscatel as a
sign of gratitude, one last hug and a few more kisses, and we said goodbye to
those two unique figures with one hopeful see
you soon.
I’m so happy that I could cry now, he told me as we walked up the
street. I could help thinking about myself. When was I this happy that I could
cry for the last time? Well, after all it wasn’t that long ago as I first
thought at the beginning of this sentence. And it’s not as I was about to burst
into tears, but there were several moments yesterday on which I had no words, I
wanted to express the thoughts that crossed my mind flying, and I just couldn’t
do it. Since I laid eyes for the first time in Torel, until the moment I said
goodbye to António and Ermelinda, and Felix tells me that he could cry. In all
of those moments, there was little I could say.
And I
couldn’t help wondering, isn’t happiness about those absence of words that we
experience so many times?
Sem comentários:
Enviar um comentário