sexta-feira, 7 de junho de 2013

photo © Sebastien Formosinho Sanchez Muller 2012
A rapariga estava sentada na mesa mais próxima à janela, duma madeira tosca, uma toalha branca fazia as honras da casa. Bebia alheada um copo de tinto que lhe tinham posto à frente, enquanto pensava em pouco ou em coisa nenhuma. A vida do outro lado da janela ajudava esta composição de nada, qual tábua rasa, incapaz de elaborar o mais básico pensamento. É no meio desta complexa cena que um estranho se aproxima.

Queria só fazer uma pergunta, onde é que te posso voltar a ver?

A rapariga, que não esperava aquela abordagem – ou qualquer outra de diferente natureza – ergue atónita a cabeça para perceber quem se lhe dirigia naqueles termos, e em jeito de resposta ensaia o verbalizar de um som, qual ponto de interrogação. O estranho, apercebendo-se do impacto da sua inusitada aproximação, coloca a pergunta novamente.

Onde é que te posso voltar a ver?

Inerte, a rapariga retorquiu um tímido e confuso No Saldanha...? O estranho reage saindo de cena, não sem antes deixar de presente à rapariga um sorriso convidativo. Ela permanece sentada durante aquilo que poderão ter sido uns poucos segundos ou alguns minutos, até que por fim o corpo lhe sai disparado mesa fora, numa tentativa vã de ainda encontrar aquela misteriosa figura. Atravessando a porta em direcção à rua, para trás deixou apenas uma toalha branca, e as gotas caídas do copo de vinho, estremecido na mesa à sua passagem abrupta.

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