terça-feira, 11 de junho de 2013



Palavras para a Minha Mãe



mãe, tenho pena. esperei sempre que entendesses 

as palavras que nunca disse e os gestos que nunca fiz. 
sei hoje que apenas esperei, mãe, e esperar não é suficiente. 

pelas palavras que nunca disse, pelos gestos que me pediste 
tanto e eu nunca fui capaz de fazer, quero pedir-te 
desculpa, mãe, e sei que pedir desculpa não é suficiente. 

às vezes, quero dizer-te tantas coisas que não consigo, 
a fotografia em que estou ao teu colo é a fotografia 
mais bonita que tenho, gosto de quando estás feliz. 

lê isto: mãe, amo-te. 

eu sei e tu sabes que poderei sempre fingir que não 
escrevi estas palavras, sim, mãe, hei-de fingir que 
não escrevi estas palavras, e tu hás-de fingir que não 
as leste, somos assim, mãe, mas eu sei e tu sabes. 

José Luís Peixoto, in "A Casa, a Escuridão"



Hoje ela fazia anos. Já não sei quantos, aos poucos fui deixando de fazer contas aos números que fazem doer. Palavras são as de outrem,  que a saudade tem o condão de ir dia após dia asfixiando o tanto que ficou por dizer.


Afinal foram seis. Seis redondos anos. Dois mil, cento e noventa dias a tentar perceber como chegar a algum lado sem deixar o vazio e a impotência meterem-se pelo caminho. Hão-de haver sempre dias diferentes, dias em que a resiliência não vai querer sair da cama, por muito que eu puxe por ela. 



E dias hão-de haver, mãe, em que as vinte e quatro horas vão passar e talvez já nem sempre vá pensar em ti. Não porque te comece a esquecer, mas porque desses esquecimentos também se tece a sobrevivência. E tu sabes o quão ainda mais forte quero ser, o quão mais longe quero chegar, e todas as batalhas que quero vencer. 



lê isto: mãe, amo-te. 

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