quinta-feira, 24 de outubro de 2013




Ar dentro.

Ar fora.

Ardentroarforaardentro.

Fecho os olhos, e dou-me uma oportunidade mais de tentar encher os pulmões de ar. O espaço que devia ter dentro está demasiado ocupado de memórias, de fotografias rasgadas, músicas ouvidas pela metade, refeições que acabam com todos os pratos e todos os copos partidos pelo chão. Um força aleatória de ar é por fim bem sucedida em explodir em vida nos meus pulmões, que tanto dela precisam para me oxigenarem o coração, para me oxigenarem o pensamento. No purgatório que é todo este ritual, nunca sei quando será a última ou a próxima vez em que conseguirei fazer com que o meu corpo respire, em que a matéria reaja. A cada tentativa, temo ou anseio que seja a última vez que me sinto insuflar. Porque nunca como desta vez o corpo havia caminhado a par e passo com a mente. E agora tudo dói, o ar que não circula, o coração que se contrai, os olhos que se fecham com violência. Sei o que me falta para esfaquear este elefante que acampou no meio do salão. Sei, e tremo de o saber. A verdade é crua de mais, e o meu corpo fraco de mais para a abraçar uma vez mais. Desvelado o deixo, intimamente desejando que as águas desta chuva interminável o sorvam gota a gota, para dele não mais haver rasto que o denuncie

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