"Leaving is not enough; you must stay gone."
Frida Kahlo para Marty McConnell
Diz-me que não
Não
consigo
Diz-me já, com todas as letras, JÁ-NÃO-QUE-RO-ES-TAR-MAIS-CON-TI-GO
Não
posso, não consigo, não sei
É no mínimo insensato esperares que eu o faça, se
tu próprio és a vítima primeira de uma afasia ridícula que não to permite verbalizar,
tampouco concretizar em gestos que não contrariem tudo o que dizes.
Apertaste o corpo contra o meu com violência, não
permitindo um milímetro de espaço entre nós.
Sufocaste de beijos sôfregos a minha boca, mal
conseguia já respirar.
Velaste-me em cuidados mil, levada ao colo num
abraço de uma noite maior que a vida.
Apertaste-me o queixo entre os teus pequenos dedos
e repetiste-me à exaustão
Olha para mim
Olha para mim
Olha para mim
Subserviente, olho para ti há tempo demais. Olho para
ti desde que a tua presença me desinquietou no meio do alvoroço feliz em que me
encontraste um dia, olho para ti desde que o teu carinho me resgatou à mais
longa e escura noite em que já dormi, olho para ti desde que o teu desassossego
me contagiou irremediavelmente e nunca mais a letargia fez parte do meu
vocabulário.
Olho-te, mas não consigo mais prender-me ao fundo
dos teus olhos. Porque quando o faço, sempre encontro um trejeito que contraria
cada palavra que proferes. E por mais que me apeteça lá ficar, sou obrigada a olhar
noutra direcção, para não ver mais verdades nos teus olhos que mentiras na
tua boca.
Valesse mais um olhar que se oferece que o som de uma palavra.
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