Photo @ Ana Ribeiro Lages 2013 Lisboa (vinte&oito) |
Perdi o fio à meada.
Deixei de contar as dezenas, centenas, milhares de cartas de amor sem carteiro
que mas leve que se foram acumulando na minha cabeça a cada segundo que a
distância aumenta e só me aperta mais o coração. A última, revia-a mentalmente
uma segunda-feira, ainda não eram oito da manhã e já o vinte&oito fazia as
honras descendo a Almirante pomposo para em passando a Palma, romper Martim
Moniz adentro. Distraída, revia as palavras que se desarrumavam dentro, para
logo depois seguirem aleatórias solitárias viagens rumo a nenhures.
Uma silhueta de sexo
indefinido assoma-se ao lugar vago que ainda sobra no meu banco. Não olho, não
me interessa, não quero saber de mais nada há muito tempo, não me preocupo, não
questiono, não refuto. Aceito, espero e rejubilo ante a possibilidade da
tormenta virar calmaria. Acenando-me gestos pouco precisos, julgo que a
intenção dessa figura é tão só e apenas a de sentar. Desengano-me logo de
seguida quando me toca ao de leve no ombro O
seu título de transporte, por favor. Quando lhe devolvo o toque com o virar
do rosto, não vou a tempo de elevar rápida a mão e secar a última lágrima,
herdeira solitária da carta de amor que apenas cruzava os pensamentos daquela
manhã. Ele segura-se nela (na lágrima) por alguns segundos, para logo de
seguida me deixar em detrimento de um qualquer outro passageiro que por ali
deambule àquela hora vespertina, O seu
título de transporte, por favor.
Puta de mania essa a de
chorar em transportes. E no entanto, estes continuam a ser o melhor sítio do
mundo para chorar as cartas de amor que nunca hei-de expedir, que sem
destinatário hão-de ficar, pois de mim e de ti não mais se escreverão mais
palavras que justifiquem tantas e tantas cartas de amor por entregar. Delas me
desfaço em lágrimas que povoam os bancos do vinte&oito, do sessenta, da
linha verde e da azul.
no Verão, e em todos os dias luminosos, escondo as lágrimas nos óculos escuros...
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