O esforço de tentar deslindar
traços tornava-se cada vez mais inglório, pesarosamente infrutífero. Abandonou
por isso a ideia de tentar compreender onde começava um corpo, onde acabava o
outro. Livres de geometrias que os delimitassem, uma linha levava à outra, fazendo
dum a perfeita extensão do outro, numa imprecisa matemática cuja solução não
seria senão a de um encetado deleite que parecia não mais acabar. A volúpia dos
gestos deixando a cada avanço um indelével rasto de lascívia, a nudez sensual à
luz exposta, a carnalidade desmedida e incontrolada. Com ferocidade a pele é
mordida, repuxada, natural terreno de explorações que se presta a ser.
Os odores perdem-se nos sabores,
os membros aleatoriamente enlaçados, confusão, pausa. Um trago disto, um bafo
daquilo, inebriam-se os sentidos uma vez mais e outra viagem logo começa. Do prazer,
não ficará senão um quarto ocre, abafado, onde dois corpos jazem despidos e
abandonados, inertes à figura que por fim os abandona.
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