quarta-feira, 2 de outubro de 2013


Fosse eu Rei do Mundo, 
baixava uma lei: 
Mãe não morre nunca, 
mãe ficará sempre 
junto de seu filho 
e ele, velho embora, 
será pequenino 
feito grão de milho. 

Carlos Drummond de Andrade, 
'Lição de Coisas'




Aquele nó inextricável na garganta, que já conheço melhor que ao sangue que me corre nas veias. Esse, não sei que alguma vez o hei-de chegar a conhecer verdadeiramente. Não agora, que já não estás cá. 

Mas o nó na garganta conheço-o de trás para a frente.

Um nó que inevitavelmente me traz lágrimas aos olhos, para depois caírem num colo onde nunca secam. Um colo que já não tem colo onde cair. Nunca teve. E num destes dias, do nó se fizeram lágrimas outra vez. E já tinha passado muito tempo, talvez tempo demais, desde que tinha deixado cair estas lágrimas por ti. Foi quando o percebi que me entreguei às evidências e me permiti o choro que andava a calar há tanto tempo.  Porque já são mais os dias que passam sem que pense em ti e na saudade que deixaste, do que os dias que sofro por não te ter para abraçar, para rir e para me zangar. 

Sim, para me zangar. 

Que de me ter zangado tão poucas vezes contigo, hoje zango-me muitas vezes comigo, e com pessoas que não te conhecem de lado nenhum e nem sabem que me zango com elas por me ter zangado tão pouco contigo. Confuso? Pois, também achei quando mo explicaram. Mas afinal fazia todo o sentido. Porque há zangas que é preciso ter, e eu que nunca me quis zangar contigo, mãe, nunca. Sempre te quis protegida, amada, cuidada, feliz. E zanguei-me tão, mas tão pouco... 

E chorei porque achei triste já não pensar em ti tantas vezes. Deve ser mais um dos meus automáticos mecanismos de defesa, desses em que já sou mestra desde que aprendi o que era o sofrer e sobre os quais podia dar prestigiadas palestras sem tremer a voz uma vez que fosse. 

Mas a vida tem maneira estranhas de te trazer até mim de vez em quando. E hoje, um like numa foto minha e tua despoletou uma adorável corrente de beijinhos, abraços e corações de que não estava à espera. E em cada um deles, senti um beijo teu, um abraço teu, o teu coração colado ao meu. Como se de alguma maneira me gritasses 

estou aqui, não te esqueças de pensar em mim

Eu NUNCA hei-de deixar de pensar em ti, mãe. Só não posso prometer fazê-lo todos os dias. Porque mesmo passados seis anos, continuas a doer-me, e ainda não consigo vislumbrar um dia em que a tua partida venha a ser apenas mais uma das muitas pedras que já conto no caminho. 

1 comentário:

  1. Caíram lágrimas no meu colo menos jovem, lágrimas que o texto intensificou.
    (Choro assim há mais de 27 anos. E são lágrimas que sei nunca irão secar. E ainda bem, pois não há nada pior que um choro seco, calado, moído e que nos desfaz as entranhas)

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